domingo, 11 de junho de 2017

O garoto idoso

O garoto idoso

     Era uma noite estrelada, quando de dentro da casa amarela ouviu-se em alto e bom som gritos pedindo socorro. Seu Antônio, o vizinho, de imediato foi investigar o que estava acontecendo. Correu até a casa amarela e viu pela brecha da porta algo vermelho, parecido com sangue.
Preocupado com o ocorrido tentou ligar para a polícia. Ligou uma, duas vezes e nada de atenderem, até que na terceira ligação ele ouviu a voz de um homem:
- Alô! Disse o homem.
- Boa noite, respondeu Seu Antônio, aconteceu alguma coisa com a minha vizinha. A
única coisa que eu consigo ver pela brecha da porta é algo vermelho, parece com
sangue.
O atendente responde:
- Mandaremos uma viatura. Ela chegará em 01:00 hora.
- Uma hora? Indaga Antônio.
- Meu senhor, a cidade é grande. Temos muitos casos para resolver.
- O que é mais importante que um possível crime de assassinato?
- Corrupção!, diz o atendente, os políticos corruptos estão retirando cada centavo do
nosso salário e do que é preciso para manter a segurança nessa cidade grande, e esse dinheiro some com eles em praias bonitas e cruzeiros caros.
O atendente continua, meio aborrecido com o desabafo:
- Meu senhor, iremos fazer o possível para chegar no local a tempo.
Seu Antônio, zangado indaga:
- O que é mais importante que uma vida? Por acaso você tem uma pedra no lugar de
um coração? Fique sabendo que esses políticos estão no poder porque você e muitos outros caíram nas suas propostas de campanha.
- Eu entendo que estamos falando de uma vida, mas ela não é o único problema no
momento. Diz o atendente.
Seu Antônio por sua vez responde:
- Os problemas são iguais às pedras. Cabe a você pegar cada uma delas para formar
um caminho até a solução.
Conselho interessante! Mas, em relação ao seu problema, faremos o possível para
resolver logo.
Quando o atendente desligou, Seu Antônio percebeu um silêncio absoluto vindo da
casa, como se estivesse em um campo, ouvindo apenas o barulho das árvores. Parecia um lugar deserto, sem vida, o que preocupou o senhor de idade.
“ Entro ou não entro? “ refletia o velho, sozinho, por conta própria. Se lembrara das histórias de assassinato horripilantes que seu pai lhe contava. Se sentiu uma criança de novo, com medo. Tentou ligar de novo para a polícia, mas ninguém atendeu. Foi então que se lembrou das aventuras de menino, brincando nas “ casas mal-assombradas “com seus amigos, lembrou-se da coragem e ousadia que tinha e decidiu que iria entrar na casa amarela de qualquer jeito, com a sensação de se sentir um criança mais uma vez.
Caminhou até a porta da frente, girou a maçaneta mas a porta não se abriu. Correu até a parte de trás da casa e tentou abrir a porta dos fundos. “ Que sorte! “ pensou
Antônio, “ a porta está aberta “. Entrou e fechou a porta com maior cuidado.
A casa era bonita, bem organizada, móveis bonitos. Quando olhou para a esquerda se
deparou com uma jovem loira, lendo um livro deitada em uma rede junto aos seus
fones de ouvido. A moça estava tão focada na leitura que deu um salto ao perceber o
velho em sua casa.
- Quem é você? Perguntou a jovem, meio trémula.
- Sou o morador da casa ao lado, ouvi gritos e fiquei preocupado e quis investigar.
Seu Antônio viu a capa do livro, quando o reconheceu abriu o maior dos sorrisos. Sua
capa mostrava o pôr do sol em uma praia.
- Ah, me desculpe pelos gritos! Eu estava assistindo um filme de terror. Disse a jovem, desconfiada.
- Mas também tinha algo parecido com sangue. Foi o que vi ao espiar na brecha da
porta.
- Levei um susto em uma cena e por descuido deixei meu copo com suco de morango cair. Disse a moça.
- Ok. Qual seu nome? Pergunta o velho.
- Rosa. E o seu?
- Antônio. Muito prazer em lhe conhecer, principalmente porque você está lendo meu livro favorito!
A garota revelou um alegre sorriso depois do que Antônio falou sobre o livro.
- Sério? Eu amo este livro! É a 4° vez que estou relendo e nunca me canso dele.
Responde Rosa.
Este livro marcou minha juventude e toda vez que vejo esta capa lembro-me do meu
pai, o meu maior herói.
A conversa foi interrompida por batidas na porta. Era um policial. Rosa explicou que
era apenas um mal entendido. Ao voltar ao cômodo que estava percebeu o afeto do
senhor com aquele livro. Observou por mais um tempo e deixou de ver aquele senhor de idade que invadira sua casa, em vez disso, viu a alma de um garoto brincalhão, alegre, divertido abraçando talvez o que seria o amor da sua vida.
- Há quanto tempo você não lê este livro? Pergunta Rosa.
- Quando eu tinha 16 anos.
Os olhos de Antônio brilhavam enquanto ele olhava para o livro, sentimento que a
jovem percebeu e se comoveu.
- Quer saber, vou doá-lo para você!
- O quê? Mas este é seu livro. Diz Antônio, espantado.
- Sim, este era meu livro. Agora é seu.
A moça se despediu do velho, que voltou para casa junto ao livro. Ao entrar em sua
casa, sentou-se na sua poltrona de couro e abre o livro. Lembrou-se do pai, dos
amigos, aventuras e principalmente daquele garoto que ainda vive dentro dele.



Texto de Wanderson Galeno
2° ano de Edificações

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